domingo, 2 de dezembro de 2018

Empresas de ônibus dizem que já perderam 5% dos passageiros para aplicativos

Mais uma vez, as novas modalidades que permitem o transporte de mais de um passageiro por aplicativos como Uber e 99 mostraram interferir diretamente no transporte público.

A NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), entidade que reúne mais de 500 viações, informou que as empresas de ônibus já perderam 5% dos passageiros para aplicativos como Uber e 99 em algumas cidades do Brasil.

A associação escreveu uma carta aberta aos prefeitos de todo o País solicitando que protejam o transporte coletivo da “concorrência desleal” criada por modalidades de transporte por aplicativo para mais de uma pessoa, como o Uber Juntos e o Pool +, da 99.

O assunto esteve presente na pauta da 74ª Reunião Geral da FNP (Frente Nacional de Prefeitos), que ocorreu em São Caetano do Sul, no ABC Paulista.

Segundo o presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, o setor de transporte público é fortemente regulado e as novas modalidades de transporte por aplicativo são uma concorrência “predatória”.

Na visão do presidente, permitir as modalidades Uber Juntos e Pool + seria o mesmo que decretar o fim do setor de transporte coletivo, que já acumula perda de 25% dos passageiros de 2014 a 2017.

“O Uber Juntos e a outra modalidade lançada pela 99 em Belo Horizonte são serviços que se travestem de transporte público e não são mais transportes individuais de pessoas. Em uma mesma viagem, ele opera em determinado percurso e vai angariando passageiros ao longo do trajeto”, disse Cunha em entrevista ao Diário do Transporte.

Por meio da carta, a NTU solicita que os prefeitos fiquei atentos no momento da regulamentação da lei 13.640/2018, que permitiu no Brasil o funcionamento do transporte privado de passageiros por aplicativos.

Segundo Cunha, não se pode deixar que esse tipo de transporte, por aplicativo, opere como um serviço coletivo, por estar sendo regido por normas de livre comércio.

“A carta é um alerta do que pode vir a acontecer. O transporte alternativo por vans e kombis quase acabou com o transporte coletivo nos anos 1990. O Uber Juntos vai agir predatoriamente contra o transporte público da mesma forma”, disse Cunha.

Segundo o presidente executivo da NTU, há o risco de o serviço público que está sendo ofertado ter a qualidade piorada e ainda ser reduzido por conta da concorrência com as novas modalidades de transporte por aplicativo.

“Isso vai afetar aquelas pessoas que moram longe e sempre estão cativas do transporte público”, disse. “O Uber Juntos não é um transporte individual de pessoas, é um transporte coletivo e não deve subsistir nessas condições em que está operando. Ele só opera quando tem demanda e vai retirar os passageiros do transporte público, desequilibrando a rede de transporte”, avaliou.


“Não somos contra o transporte por aplicativo individual. Ele ofertado como é o táxi, obedece a regras de mercado de livre iniciativa. Agora o transporte por aplicativo, chamado de compartilhado ou Juntos, pode atrapalhar o transporte público”, completou.

Cunha explicou que as linhas de ônibus mais longas, que chegam a bairros periféricos, dependem financeiramente dos itinerários mais curtos que operam na região central. O presidente afirmou ainda que, para haver equilíbrio, o sistema de transporte público precisa de linhas rentáveis mais curtas, com mais passageiros.

Desta forma, segundo Cunha, é possível manter os trajetos mais longos, que são deficitários de passageiros, mas são socialmente necessários que o transporte coletivo possa atender a todos.

Entretanto, o Uber Juntos e o Pool +, quando operam nos grandes centros em trajetos curtos, retiram do transporte coletivo os passageiros que são essenciais para financiar todo o sistema.

Confira a carta aberta aos prefeitos, feita pela NTU:




OUTRO LADO

A Uber negou, em nota, que as modalidades de compartilhamento das corridas configurem transporte coletivo. Confira, na íntegra, o comunicado emitido pela Uber:

“O Uber Juntos é uma evolução da modalidade Uber Pool, que opera na cidade de São Paulo desde 2016, e representa mais uma opção de mobilidade compartilhada com uso da tecnologia. Dessa forma, o Uber Juntos não é uma modalidade de transporte coletivo, mas um sistema que combina viagens individuais com trajetos convergentes para compartilhar o mesmo veículo, aumentando a eficiência do modelo.

Criado para colocar mais pessoas em menos carros, o Uber Juntos contribui para reduzir o impacto dos congestionamentos, oferecendo preços mais acessíveis para os usuários ao mesmo tempo em que mantém os ganhos dos motoristas parceiros. A tecnologia da Uber conecta usuários que têm percursos individuais parecidos, driblando o trânsito ao pedir que os usuários caminhem alguns minutos para encontrar o motorista.

Ao tornar o uso do automóvel mais eficiente, a Uber acredita que o Uber Juntos complementa o transporte público, ampliando o acesso dos usuários à rede pública principalmente na região central – exatamente onde existe maior necessidade de diminuir o fluxo de carros.

Além disso, as modalidades de viagem compartilhada são incentivadas e expressamente autorizadas nas regulações municipais dos aplicativos, como as da cidade de São Paulo e do Rio de Janeiro, por exemplo.”

Diário do Transporte

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