Uma dissertação defendida no Programa de Pós-graduação em Demografia da UFRN (PPGDEM) mostra que a gravidade dos acidentes de trânsito nas BRs nordestinas não se relaciona apenas ao comportamento dos condutores, mas também a fatores relacionados às vias e às condições do ambiente do momento do acidente, o que evidencia, de acordo com a pesquisa, a necessidade de mais ações intersetoriais para a prevenção de desastres.
Elementos estruturantes das vias urbanas também podem colaborar para a redução da gravidade das ocorrências. Foto: Cícero Oliveira/Tribuna do Norte |
O nome do estudo é Fatores associados aos acidentes de trânsito graves envolvendo condutores de automóvel e motocicleta: uma análise para as BR 101, 116 e 230 na Região Nordeste em 2007 e 2016, e foi conduzida pelo aluno Valdeniz da Silva Cruz Junior, sob orientação da professora Luciana Lima, que levou em consideração o fato de que o Nordeste foi uma das regiões do país que registrou maior elevação nas taxas de mortalidade por acidente de trânsito no período de 2001 a 2015. Em 2016, por exemplo, o Nordeste apresentou a maior taxa de letalidade por acidente de trânsito: 10,5%.
“São escassos os estudos que consideram elementos referentes às condições e características das vias, do ambiente e do veículo, como a presença de interseções e curvas, deficiência da iluminação viária, tipo de pavimentação da via e o clima, pois as pesquisas normalmente utilizam apenas variáveis sociodemográficas, socioeconômicas e variáveis ligadas ao comportamento do condutor, como a ingestão de bebidas alcoólicas e drogas antes de dirigir, e a utilização de equipamentos que protegem o indivíduo no momento da condução, como o cinto de segurança e o capacete”, compara Valdeniz.
Um dos aspectos importantes da pesquisa é apontar estatisticamente que a via também pode colaborar para esses acidentes e, por consequência, para a alta mortalidade. Segundo dados analisados em 2017, aproximadamente 48% dos trechos das rodovias federais avaliados pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) foram classificados nas condições 'regular', 'ruim' ou 'péssimo'. A sinalização e a geometria viária também foram avaliadas e receberam essas mesmas classificações em mais de 50% dos trechos da Região Nordeste.
Valdeniz utilizou a base de dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que registra as condições físicas da via e do ambiente no local dos acidentes. Foram analisados 2.692 casos em 2007 e 3.011 casos em 2016, ambos referentes a condutores de automóvel e motocicleta. A análise também leva em consideração as condições inadequadas de sinalização. Nesse sentido, estudo realizado em 2017 pela Confederação Nacional de Transporte indicou diversos trechos das rodovias em condições regulares, ruins e péssimas de sinalização: BR 101 (Alagoas, Bahia e Sergipe), BR 116 (Bahia, Paraíba e Pernambuco) e BR 230 (Ceará, Maranhão e Piauí).
Os elementos estruturantes das vias urbanas, esclarece Valdeniz, também podem colaborar para a redução da gravidade das ocorrências, como os semáforos e as lombadas físicas. “Nas áreas rurais, por outro lado, a fiscalização não mostra-se tão intensa como no meio urbano, além de não existir um fluxo intenso de veículos, o que pode estimular o condutor a utilizar velocidades mais elevadas durante as viagens”, complementa.
No mundo
Segundo projeções da Organização Mundial de Saúde, os níveis de óbitos e de feridos no trânsito podem aumentar substancialmente até 2030, caso medidas e atitudes de proteção não sejam adotadas. A Organização das Nações Unidas decretou em 2010, a Década de Ação para a Segurança no Trânsito (2011-2020), mobilizando os países para a implantação de políticas públicas com foco em cinco pilares definidos, com o objetivo de reduzir as consequências negativas dos acidentes: Gestão efetiva da segurança viária; Estradas e mobilidade mais seguras; Veículos mais seguros; Usuários da via mais seguros a partir da conscientização do uso de equipamentos de segurança e cumprimento das leis; e Atendimento rápido e de qualidade às vítimas.
Tribuna do Norte
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