O sobrenome Barata virou sinônimo de problemas no transporte público do
Rio e alvo dos protestos contra o reajuste da tarifa dos ônibus. À
frente da empresa da família, sócia de 11 das 42 viações que operam no
município, Jacob Barata Filho, 60, aproveitou-se do fato de ser pouco
conhecido, são raras entrevistas e fotografias para se infiltrar nos
protestos e ouvir queixas. Sua conclusão: há "total falta de
informação".
Barata se emocionou ao falar do protesto no casamento da filha, no
Copacabana Palace, e se queixou do boato de que é cunhado do governador.
A relação institucional mudou, estamos nos adaptando. Temos pela
primeira vez uma política de investimento de infraestrutura e contrato
de concessão [de 2010] que deixa claro direitos e deveres.
Mas sempre se falou que as empresas decidem tudo.
Gostaria muito que tivesse sido assim um dia. Nunca mandamos no
governo. A maior prova é o monte de vans que surgiu de 2000 para cá e
pegou 30% do mercado.
O que o sr. acha de dizerem que há a "máfia do ônibus"?
Pejorativo. Naturalmente há políticos que ajudamos a eleger, com
trabalho nas empresas. Como há bancada ruralista, há a do transporte.
Como é essa relação? A concessionária não pode doar.
É pessoal. Temos certa influência junto aos funcionários. São pessoas
em cujo trabalho acreditamos e pedimos para que votem nelas.
Na CPI dos Ônibus, vereadores que não firmaram o pedido foram nomeados para a comissão. Eles são dessa bancada?
Não temos relação com essa turma. A bancada dos transportes atua mais
nacionalmente. Só o fato de ter sido instalada a CPI mostra que não
temos controle.
Mas a CPI aconteceu num momento que fugiu do controle, que depois se tentou retomar?
Ao contrário. Nós nos preparamos para ir à CPI para mostrar a
transparência que dizem não existir. O que queremos é que, quando passar
um ano sem ter reajuste, alguém pague a conta.
O governo estadual subsidiará tarifas. Já o prefeito Eduardo Paes (PMDB) diz que "não dará dinheiro para português"...
Nosso prefeito poderia ser um pouco mais carinhoso. O último
português no negócio tem quase 80 anos [Jacob Barata, seu pai] e méritos
de ter sido pioneiro no setor.
O que achou dos protestos contra aumento da tarifa?
A única coisa espontânea era o pedido de tarifa zero. Mas será que
vale a pena o governo gastar dinheiro da educação e saúde para a pessoa
não pagar R$ 3?
A tarifa zero subsidiada é o melhor para os empresários?
Lógico. Não tem confusão para aumentar, nem pressão.
Não. Como não sou conhecido, até desci para acompanhar e falar com as pessoas.
Como se sentiu no meio de gente criticando seu trabalho?
Mal, aborrecido e muitas vezes injustiçado.
O que chamou sua atenção?
A falta de informação. A maior lenda urbana é que a Adriana Ancelmo
[primeira-dama do Rio] é filha do meu pai. De repente virei cunhado do
governador.
O que mais incomodou no protesto no casamento de sua filha?
A agressão aos convidados. Pode fazer o protesto que quiser, mas
xingamento, agressões, quebra de carros é inadmissível. Estragou a festa
da noiva e do pai dela.
O sr. anda de ônibus?
Às vezes, como controle de qualidade. Mas já andei muito de ônibus.
Fonte: Folha de São Paulo

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